Terminei o clássico Madame Bovary semana passada, leitura que me impactou de modo muito singular e íntimo. O livro narra a história de Emma Bovary, uma jovem sonhadora francesa do século XIX, que vive na espera de vivenciar as idealizações que tanto lê nos romances. Sua primeira grande frustração vem com o casamento e a monotonia doméstica.
A obra teve repercussão polêmica, sendo processada por “afrontar a moral e os bons costumes” de seu tempo. Emma Bovary tinha atitudes controversas para uma personagem feminina da época, como a rejeição da maternidade, envolvimento em casos amorosos extraconjugais, obtenção do controle financeira da casa e constante manipulação do marido.
No início da leitura, Emma soa como uma jovem inundada pela pulsão de vida, mas que vive aprisionada ao papel de mãe e esposa, de um marido compreensivo, mas medíocre. Ela desejava frequentar bailes, teatros, grandes cidades como Paris, conhecer pessoas, viver um grande amor. Suas angústias são de fácil compadecimento.
Mas exitei em minha compaixão por diversos momentos. Emma também tem sua face mimada e bastante autocentrada. Ao longo da trama, percebemos que o problema não está no casamento ou na maternidade em si, mas em sua capacidade de contentar-se com a vida, sejam quais fossem as circunstâncias. Mesmo com seus amantes, com que vive tão eufóricas e ardentes peripécias, ocasionalmente sente-se no mesmo marasmo do casamento. Fantasiar com os encontros torna-se mais agradável do que o próprio encontrar-se.
Emma, em sua busca constante e imatura pelas bem-aventuranças que lia nos livros, desconecta-se da realidade, envolvendo-se num consumismo tão desenfreado que adquire dívidas altíssimas, sem responsabilizar-se pelo pagamento delas. É uma personagem complexa, intrigante. Gustave Flaubert desejava, com a obra, criticar a burguesia da época, da qual fazia parte, mas acaba por descrever angústias humanas universais. A confusão de tédio com angústia. De entusiasmo com plenitude. Repleto de outras personagens intrigantes - como o marido, um homem regular, satisfeito e servil, ou o “comerciante de novidades”, um exímio vendedor, conversador e astuto - Madame Bovary é de uma proeza e um primor sublime. Não a toa, dois séculos depois ainda provoca reflexões pertinentes e atuais.
amei sua reflexão amiga, me deu vontade de ler!